Hoje conto-vos das memórias de um mês de Abril, que em 2011 me levou até Marrocos: espero que gostem e que se sintam inspirados em visitar um dia este país.
Porque há muitas coisas na vida que valem a pena. E depois há as outras: as inesquecíveis!
Na verdade, nunca pensei muito em visitar Marrocos, não me despertava interesse, não gostava da forma como ainda tratam as mulheres por lá, não me apetecia estar num sitio onde não pudesse andar à minha vontade.
Mas muitas vezes as viagens "acontecem", e foi assim que esta aconteceu.
De Marrocos vou guardar Marraquexe e os Jardins Majorelle, lindos lindos lindos... Vou sentir sempre o sabor do chá de hortelã que sabia bem, mesmo com calor.. e ficar com a memória do Atlas, montanhas a perder de vista que percorremos de jipe, ao som da musica arabe.
Mas mais que tudo, para mim, a experiencia "Marrocos" aconteceu em dois dias, os dias em que estivemos no Sahara. É impossivel ficar indeferente à sensação de "Mundo" que nos dá o deserto.
Chegamos a uma cidade nos limites do Sahara de manhã, havia tempestade de areia: -"Nada bom" dizia o Mohamed, "Se não levantar, não podemos sair para o deserto"...
Sentamo-nos no pátio interior da casa do irmão dele e esperamos, tinhamos viajado de carro muitas horas seguidas.. doía-me o corpo e apetecia-me dormir uma sesta. Mas não conseguia. A cada 5 minutos vinha cá fora espreitar a tempestade... o Sahara ali tão pertinho...
A meio da tarde o tempo melhorou: "Vamos" disse o Mohamed, "os camelos estão prontos!"
Pegamos nas mochilas à pressa e saimos em passo de corrida, enrolamos lenços na cabeça e rimos. O sol não estava demasiado forte e tudo à volta era dourado.
Aproximamo-nos dos camelos: o meu era o "Bob Dylan" e tinha um piercing no nariz.. e tinha mais coisas que eu só descobri depois: o Bob Dylan era o camelo maior e, como tal, transportava sobre o lombo um cobertor para eu dormir, as panelas e os legumes que iriam servir para cozinhar o nosso jantar na fogueira. E ainda levava a Rita, em cima do cobertor, e das panelas! Foi lindo!
Montar um camelo no deserto, é como andar de barco, de cada vez que o camelo enterra as patas na areia: durante 2h30 foi assim, e foi super! Rimos, tiramos fotos, viamos o Mohamed a pé, ao longe, a "derrotar" todas as dunas que lhe apareciam pela frente e a determinado ponto eramos nós, o céu e o Sahara. Senti-me tão, mas tão pequenina... e pensei que realmente os momentos perfeitos existem.
Chegamos ao nosso acampamento: uma tenda só, que iamos partilhar com um grupo de franceses. Cá fora uma fogueira e uns cobertores alinhados à volta.
Anoitece depressa no deserto, e fica escuro, mesmo escuro, não se consegue ver a mais de 2 metros! Jantamos à volta da fogueira a ouvir historias e adivinhas.. ficou frio. Vesti todas as camisolas e casacos que trazia e deite-me a olhar para o céu: nunca, mas nunca mesmo, tinha visto tantas estrelas, eram milhões! Sorri e pensei, mais uma vez, que era uma tipa com muita sorte.
Quando o frio se tornou dificil de suportar, fomos para a tenda, enrolei-me no meu cobertor a cheirar a "Bob Dylan" e aninhei-me num canto: o vento zumbia lá fora... Adormeci em menos de nada.
De repente, ao longe, ouvi alguem falar e não percebi o que estava a acontecer nem onde estava. No minuto seguinte o Mohamed aparace na tenda e diz: "Toca a levantar, são 5h30 e vai nascer o Sol!"
Saímos, estava despenteada, ensonada, com frio e apetecia-me um duche...
"Agora temos de subir aquela duna mais alta, vamos!"...
"Deves estar a brincar" pensei eu! Não era uma duna, era qualquer coisa com a altura de 4 andares!!! A reclamar comigo mesma la fui... lá fomos!
Cheguei ao topo praticamente esgotada, tinha fome e frio, mas não tive sequer tempo de dizer nada ou reclamar: sentados no chão assistimos a uma das experiências mais bonitas da Vida, a magia aconteceu no Sahara - o Sol veio, devagarinho, aos poucos começou a aquecer-nos outra vez, primeiro os pés descalços, depois os braços e finalmente atingiu-nos no rosto, até tomar conta do céu inteiro e eu senti-me a pessoa mais feliz do mundo!
Foi magnifico!!!!
Seguiu-se a descida da duna em versão sky: de rabo no chão por lá abaixo. Deram-nos um chá de hortelã quentinho, disse bom dia ao Bob Dylan e lá seguimos, de regresso a "casa"...
Eu já tive o privilégio de dormir num hotel de 1000 estrelas! E vocês?
Go.Dreamers.Go!
E o jantar? Lembra-me o que foi o jantar... Eu só me lembro da omolete (ou espécie de) que comemos no dia seguinte, quando regressamos do deserto. Foi a melhor que já comi até hoje!!!
ResponderEliminarO jantar foi tagine vegetariano, uma espécie de estufado com vários legumes. Lembraste que foi a tribo de tomadas que vivia ao lado do nosso acampamento que fez o jantar? e trouxeram numa espécie de caldeirão que ficou em cima da nossa fogueira até acabarmos de comer... lembro-me que estava bom! :)
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