Já lá vão umas semanas desde o ultimo post, o tempo escorre-nos entre os dedos, mesmo nesta realidade estranha em que parece que estamos parados.
E muitas vezes, o que nos falta, é a aquele click de incentivo, aquele momento ta-daaaam que nos diz: bora lá fazer isto!
Também já vos tinha comentado um sem numero de vezes que este meu "passeio" amador pelos caminhos da web, volta e meia, me traz pessoas incríveis e com projectos lindos por de mais.
Hoje, na entrevista nº 19 deste pasquim, apresento-vos a Carina Romano e o seu "Valentina".
1. Olá Carina, que boa surpresa foi descobrir-te, ainda mais por altura de uma data (ainda) tão importante como o Dia Internacional da Mulher! Para início das entrevistas procuro sempre dar oportunidade aos leitores de conhecerem as caras que estão na origem destes projetos. Queres contar-nos um bocadinho sobre ti? Quem é a Carina, autora da "Valentina"?
Obrigada, desde já, pelas carinhosas palavras. É uma sensação absolutamente magnifica sentir-me acolhida desta forma. Fico grata pela nobreza. A Carina é alguém simples, que gosta de uma boa conversa e de pessoas, que não troca o aconchego de casa por quase nada e que acredita que, se há amor no mundo, há esperança.
2. Quando descobriste que a escrita era, para ti, algo tão importante e fundamental quanto se veio a revelar?
Durante a minha infância gostava muito de receber livros, de folheá-los, de lê-los de uma ponta à outra e, sobretudo, de imaginar-me dentro deles, como se fizesse parte da história. Gostava de imaginar os cenários e as personagens. Ao ler um livro, acabava a criar um mundo próprio e acolhedor e ficava cheia de vontade de escrever. Sempre tive muitos blocos e fui escrevendo com alguma regularidade. A escrita passou a ser, e ainda é, para mim, terapêutica.
3. Dizem que há 3 grandes coisas que devemos fazer na vida para deixar marca para as gerações futuras: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Se as primeiras duas são mais ou menos acessíveis a todos, já escrever um livro requer outro tipo de empreitada :) podes falar-nos um bocadinho na vertente prática desse processo? Como se consegue uma editora? A quem tem de se vender a história? Que recursos são essenciais para concretizar um feito destes?
A escrita de um livro fascinou-me não apenas pelo gosto de escrever e de arranjar as palavras certas para descrever o que quer que seja da forma mais real possível, mas sobretudo pela possibilidade de partilhar mensagens com os(as) leitores(as). Depois de diferentes pesquisas sobre os processos editoriais em Portugal, e porque é notório que há, ainda, uma grande desvalorização dos(as) autores(as) portugueses, sobretudo daqueles(as) que escrevem um livro pela primeira vez, fascinou-me a ideia de publicar um livro de forma independente, não estando ligada a uma editora. A Edição de autor(a) assenta na política de liberdade editorial, em que o autor(a) é o único(a) responsável pela edição, impressão, divulgação, comercialização e distribuição do livro. Não me faz sentido que os(as) autores(as), aqueles(as) que, de alguma forma, são movidos(as) pelos hábitos de leitura e de escrita e que contribuem para a literatura, guardem/camuflem/esqueçam os livros nas gavetas, quase como se falássemos de algo corrosivo.
Viva aos(as) autores(as) portugueses!
4. Viva!!! E muitos parabéns por esse percurso e pelo realizar do projecto! Passando agora um bocadinho para a história da Valentina, consideras que este livro pode ser classificado como biográfico?
"Valentina" é um livro de não-ficção e, porque é baseado na minha história de vida, pode, de alguma forma, ser classificado como biográfico, sendo que o objetivo foi, desde sempre, alertar, sensibilizar e promover a reflexão crítica. Não revelei, desde logo, que o livro era baseado na minha história de vida porque não era esse o foco, mas a necessidade de ajudar alguém a identificar problemas, necessidades e potencialidades.
5. A leitura do teu livro leva-nos por questões muito sensíveis e realidades que, podemos até dizer, cruas e duras. Continua a ser importante falar disto, há muitas vidas como a que nos contas e há muito abuso, tristeza, violência escondida nos lares ainda nos dias de hoje. Onde se encontra coragem para superar estas experiências?
"Valentina" é, de facto, um livro repleto de reflexões. Não há receitas. Cada pessoa é motivada por diferentes coisas e cria cicatrizes diferentes. Eu adaptei-me às circunstâncias e, à medida que fui crescendo, fui acreditando que temos influência sobre o nosso caminho. Dediquei-me à escola, aos(às) professores(as), esforcei-me por criar fortes amizades e nunca me senti no direito de prejudicar alguém em detrimento das minhas frustrações ou desilusões. É preciso respirar fundo, acreditar que depois da tempestade surge a bonança e armazenar as aprendizagens de cada experiência. Se há amor no mundo, há esperança!
6. Ao contares esta história colocaste o dedo em muitas feridas mas, ao mesmo tempo, podes dar aquele impulso que falta para que outras pessoas procurem ajuda, procurem outros caminhos, vivam outros destinos. Tinhas algum "objetivo maior" quando decidiste lançar-te na escrita deste livro?
O meu objetivo foi partilhar mensagens com os(as) leitores(as). É necessário falar sobre questões sociais. Não podemos continuar a olhar para os efeitos da dependência, para a negligência e para a violência como se fizessem parte da "paisagem social". É preciso alertar, conscientizar e promover a reflexão crítica. O facto de o livro ser escrito na primeira pessoa permite, quiçá, que as pessoas se consigam colocar no lugar daquela criança. A "Valentina" está espalhada por diferentes casas.
7. Para todos aqueles que depois desta entrevista tenham vontade de ler a "Valentina", dizes-nos onde e como podemos encontrar a tua obra?
O livro é adquirido através do Instagram @carinaromano.mybooks.
Obrigada Carina por esta sorte que me deste de poder mostrar o teu projeto a quem nos lê e por teres aceite de forma tão entusiástica este meu convite. É um orgulho muito grande trazer estes temas à discussão, à reflexão, à vida de todos os dias.
Para todos o que possam estar a lidar com alguma situação de negligência ou violência, que conheçam algum caso em que seja preciso ajuda, lembrem-se que os apoios existem. A pandemia veio colocar (ainda mais) no limbo muitas vitimas, escondidas agora entre quatro paredes há demasiado tempo. Denunciem, se for preciso. E tu, que vives essa realidade lembra-te: não estás sozinho.
Apoio a vítimas de violência doméstica:
800 202 148 - Serviço gratuito, anónimo e confidencial.
Instituto de Apoio à Criança (IAC) - SOS Criança:
116111
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