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InterGoView {Take 14} - Aquela sobre um passeio pelo Japão, com a Eliana Soares



Sabem aquelas alturas em que há uma conjugação inesperada de coisas boas que resultam num produto final estupendo! 

É isso que se passa com esta entrevista: o ponto de partida foi o Vou Ali e Venho Já (projecto de viagens virtuais que tanto já ouviram falar por aqui), seguiu-se a seleção de um destino exótico, como é o caso do Japão, juntou-se o facto de a nossa Eli já ter andado por lá e poder partilhar connosco as suas histórias e experiências. A cereja no topo do bolo é podermos ainda dar a conhecer o projecto Anita no Trabalho (mais uma aventura catita de quem nunca se cansa de fazer coisas e do lugar infinito que é a Web).

Nesta entrevista temos viagens, temos família e maternidade e temos a personagem central que é a Eli, empreendedora e feminista: tal como as convidadas do podcast Anita no Trabalho - tenho a certeza de que, como eu, vão encontrar inspiração sem limites nestas conversas que as "Anitas" vão partilhando periodicamente com o Mundo.

Bora então dar uma volta até ao Japão (e pelo Mundo) na companhia da Eli?



1- Eli, fala-nos um bocadinho sobre ti. 
Quem é a Eliana que nos vai levar a passear pelo Japão?

Sou uma minhota daquelas aldeias perdidas no meio do nada. Deixei-me deslumbrar pelo Porto quando vim para cá estudar com 17 anos.. a grande cidade comparativamente com a aldeia.. 

Fiquei fascinada. Lembro-me que o Porto sempre teve assim uma atração, mas eu não sabia o que é que era e nem sabia o que é que ia encontrar. Foi uma parte de emancipação mas, também, o encontrar o meu espaço. O Porto na altura tinha um lado clandestino e underground que me fascinava e com o qual eu me sentia lindamente. Calcorreava a cidade toda, fui muito pouco a aulas, confesso, mas sentia-me a descobrir-me numa cidade onde o lado cinzento e mais sombrio era acolhedor, de uma forma assim estranha e quase contraditória em termos de emoções. 

Lembro-me que passava os dias na faculdade (ia para a AIESEC, basicamente) e depois havia várias noites  na GESTO… era assim o Porto, à porta fechada, e quando abres essa porta tens um mundo lá dentro… ou no Batô… e o Porto para mim era isso: lugar de crescimento e a certeza de “é aqui que eu vou viver”. 


  

2- Mas.... afinal não foi só “aqui” que viveste :) conta-nos da tua relação com o Mundo e das cidades por onde já passaste, antes de regressares à mui nobre Invicta

Saí com uma média miserável da faculdade mas tive uma oportunidade fabulosa que foi começar na Procter (em Madrid) e foi outra vez o fascínio: o choque da dimensão e seres um alfinete no meio daquela cidade em que ninguém é introvertido. Choque cultural mas bom, assim “a esticar”… 

Sempre me acompanhou essa vontade de conhecer Mundo e não houve dúvidas quando surgiu a hipótese de sair de Portugal. Madrid foi esse salto inicial e a Procter abriu portas para um mundo inimaginável. Foi o primeiro passo grande nessa vontade de descobrir e conviver com outras culturas.. a experiência profissional foi fantástica... muito sofrida, aprendizagem que saiu da pele, mas também cheia de oportunidades incríveis.


Outro choque cultural foi também a mudança para Genebra que é uma cidade difícil, diria. Não é acolhedora, é fria no sentido literal, com uns invernos horrorosos, mas também emocional! Mas foi em Genebra que criei a minha tribo. Em Madrid fiz alguns amigos que ficaram para a vida, mas Genebra foi criar a tribo, porque havia o sentimento de “nós estamos desterrados aqui” e uma vontade de criar um abrigo e foi nisso que a nossa casa se tornou. A nossa casa era literalmente a casa do povo, não havia dia em que não houvesse quem lá ficasse, era muito normal durante a semana ter 10 a 15 pessoas as jantar lá em casa. 




Foi uma etapa de muito crescimento a nível profissional, ter a oportunidade de começar a fazer marketing desde a base, de uma forma muito estratégica, com marcas que estavam a ser redefinidas. Além disso integrei uma equipa multicultural, desde americanos (obviamente), muitos alemães, checos, suecos, uma chefe japonesa que ficou amiga para sempre e um sentimento de  “não há aqui fronteiras e podes aprender muito com toda a gente”.  

É aí perceberes que tens muitos preconceitos dentro de ti, em termos culturais, na forma como és educada, não de uma forma propositadamente negativa mas são muitas ideias pré-concebidas e estas experiencias “partem-te”… Acabas por ter tornar muito mais tolerante e percebes que isso dos juízos de valor à primeira.. não valem de muito.

E diria que fui muito feliz em Genebra, apesar da cidade não ser muito convidativa,  nós fizemos a cidade, tenho memórias muito boas.  A certa altura, por razões  familiares, decidimos voltar. Porque valores maiores chamaram e a família sempre foi um conceito que prezamos muito e que nunca se perdeu. E fez-me perceber que uma das grandes diferenças que nós temos face a outros povos é o facto das nossas raízes não serem um peso mas antes uma coisa boa: elas estão lá e são uma referência e isso é muito positivo… às vezes vês pessoas que se sentem um bocadinho perdidas no Mundo, em parte também, porque não têm isso.  

Em 2010 foi, então, o regresso e foi um regresso para um Porto que estava a começar a fervilhar e com um ritmo de mudança tremendo. nunca imaginamos que fosse assim tão rápido, tão profundo, tão estruturante. E nesse ano nasceu o Francisco (o primeiro de 4) e, portanto, foi muuuita mudança, com o desafio adicional de criar aqui relações. Porque chegas ao Porto e as pessoas têm aqui a sua rotina…não tinham os hábitos que nos tínhamos fora, não se juntavam durante a semana de uma forma espontânea, as vezes nem ao fim-de-semana... foi uma adaptação que, com o tempo, voltou a transformar a nossa casa na “casa do povo” e isso é um sentimento muito bom, tenha a casa 50 m2 ou 300.




3 – Viagens! Oh lala as viagens! Além de teres vivido fora, esses anos (e os seguintes) levaram-te a correr Mundo. 
Podes partilhar connosco um bocadinho desses teus passeios? 
Sobre os destinos que mais te marcaram e dos quais guardas memórias com mais carinho?

Lembro-me da primeira vez em Marrocos! Marrocos é aquele sitio onde aterras e já não existe o que estava para trás, estás num mundo completamente diferente. Marrocos para mim é mágico, e fomos a 2 e fomos a 10 e Marrocos tem sempre charme, seja num fim-de-semana em Marraquexe, sejam 4 dias em Casablanca e Chefchaouen  com 10 dos teus melhores amigos mais doidos... está geograficamente tão próximo e ao mesmo tempo tão distante! e purifica,é daquelas viagens que me purificam. 

Lembro-me da imagem de chegar a Marraquexe,  noite cerrada, a varrerem a Medina e nós não fazermos a menor ideia de onde era a Riad  onde íamos ficar e alguém diz “Ah, eu levo-vos” e o pânico de para não saber para onde nos vão levar, porque estas ruas são, por demais, assustadoras e está escuro e não há luz e, de repente,  entramos num sítio que não fazemos a menor ideia do que é e quando de repente abrem a porta tu ficas embasbacado…UAU!!! 

Foi daquelas viagens em que tive mais medo mas foi, claramente, das mais fascinantes também. 



Outra viagem também maravilhosa foi a Turquia. Quando casamos fomos em lua de mel à Turquia. fomos para Istambul primeiro, que é uma ventania de cheiros e de cores e de tudo tão diferente… e gatos, milhares de gatos, e perderes-te no bazar e nas mesquitas e comer sandes de peixe frito no Bósforo  (obviamente que o João olha para mim e diz “Que nojo, como és capaz de comer isso!”) e também ignorar todas as regras e comer sopa de iogurte na primeira paragem. 

Fizemos duas semanas e meia de carro pela Turquia: um deslumbre na Capadócia, Pérgamo, conhecer um Frei Franciscano - o Frei Tarcy - em Meriem Ana Evi, que era a pessoa mais doce e com quem continuamos a corresponder-nos durante anos: tu ligas-te aos locais pelas pessoas. Foi uma viagem fabulosa! 

Eu adoro cidade e países como EUA ou Europa ou Asiá, mas há tantos outros países que ainda são tão autênticos em que consegues viver como um local e afastar-te daquilo que é feito para o turista. 

Fomos à Jordania depois e, era isso que eu estava a tentar dizer, são países ainda em desenvolvimento e tu sentes muito isso, a disparidade. Dormi no deserto, ficamos sem gasolina no meio do deserto e não havia rede no telemóvel e estivemos para aí uma hora sentados no deserto enquanto o guia dizia “Não se preocupem que alguém há-de passar” e tu pensas... ok... mas o episódio deu umas fotos fabulosas e a verdade é que depois passou alguém e fomos até ao acampamento onde conhecemos uns australianos e comemos todos à volta de uma fogueira. 

Fomos a Petra que é indescritível, tal a sua grandiosidade! Só estando lá percebes a dimensão, não importa quantos filmes do Indiana Jones tenhas visto. Aquilo é monumental! Foram 8h a caminhar e lembro-me de uma birra que fiz porque queria ir ao templo lá em cima e o João não queria deixar porque eu estava grávida e a exagerar e obrigou-me a ir de burro! E depois o Mar Morto, estivemos lá a flutuar.... É isto! A partir do momento que tens estas experiências ficas com vontade de conhecer coisas mais exóticas e tornas-te mais exigente também. 

Depois nesse ano nasceu o Francisco e óbvio que andamos mais tranquilos por Portugal, a explorar. No ano seguinte, tinha o Francisco ano e meio, decidimos viajar e deixámo-lo em Portugal: foi uma decisão difícil mas muito também baseada em alguns preconceitos. 




Íamos para África: Quénia e Etiópia, e a verdade é que da Etiópia tínhamos uma imagem muito negra, aquelas histórias com que nós crescemos, de doença e fome e, portanto, custava-nos levar um bebé para um sítio onde podias estar a arriscar a sua saúde. Mas queríamos muito fazer essa viagem, até porque tínhamos um grande amigo a viver em Nairobi e por isso fomos. mal chegamos ao Quénia seguimos para a Etiópia,para visitar Axum e Lalibela.. 

Eu fico sempre com um sorriso quando penso nessa viagem porque foi uma surpresa: tudo verde (e não estares a espera disso num país como a Etiópia) e chuvas em Agosto (no teu imaginário a Etiópia é seca e há poeira) e gente feliz e a sorrir, espontaneamente, tu sentes isso, toda a gente é do mais acolhedor e hospitaleiro que possas imaginar. 

Em Axum tivemos uma experiencia fantástica, o guia levou-nos a casa da sua mãe e ela fez-nos a cerimónia do café, em que torrou uma mistura de café com outras especiarias e lembro-me do perfume... e depois bebemos o café,  tal como eles bebem, acompanhado de pipocas. E, basicamente, aquela senhora, que não falava uma palavra de inglês, estava ali, de coração aberto, a dar-nos o que tinha de melhor. 

Já de volta ao Quénia, fomos para território Masai – Masai Mara - e se no meu imaginário nunca me passou pela cabeça fazer um safari (não era daquelas coisas que eu dissesse ah e tal está na bucket list), a verdade é que fizemos, porque era parte da experiencia, e.... ficamos sem palavras! Privilegiados como somos, o nosso alojamento foi num acampamento de luxo, num quarto brutal, no meio da savana, que fecha à noite e ouves ali os leões a passear.. incrível! O Jeff, que era o nosso condutor, e mais um spotter (que era um masai) levavam-nos de jipe a passear e quando menos esperas dás de caras com um rinoceronte e vês os hipopótamos, as zebras, os nus (era altura da migração anual) e vem-te o imaginário todo do Rei Leão e do África Minha.



Nesse ano ainda, voltamos a África, fomos à África do Sul para o casamento desse amigo que vivia em Nairobi e que, ao casar com uma local, fez a cerimónia tradicional, a Lobola. A cerimónia foi em Tzaneen, perto da fronteira com Moçambique: uma cerimónia em que a vila toda participa e há uma negociação com a família da noiva. Eles tinham casado cá numa cerimonia civil mas quiseram cumprir com a tradição do povo dela e foi fascinante, estares assim estares no meio de África, perdido, não há nada à volta, numa festa com tantas pessoas e a comer insetos e o que mais te aparece à frente, e a dançar como se não houvesse amanhã. Nos dias seguintes fomos todos, com a família dela, para o Kruger, o que também foi uma experiencia incrível pelo contacto com a Natureza. 

E pronto, com África ficou a vontade de explorar muito mais.




4 – Seguimos para o Japão! 
O que vos levou a escolher este destino, como prepararam a viagem? E levar o Francisco? Uma criança tão pequena? Foi um desafio?

O Japão é um destino especial, culturalmente acho que havia uma certa proximidade, do ponto de vista do que levamos para o Japão e dessa ligação histórica entre os países. Além disso havia a ligação com a Ai , que era minha chefe em Genebra. A Ai é Japonesa, trabalhou fora na Procter voltou para Tóquio há uns anos. Entretanto já nos veio visitar ao Porto não sei quantas vezes... ficou aquela ligação e nós também queríamos saber como é que ela vivia, acompanhá-la no regresso.

Nesse ano tínhamos decidido avançar com o projeto da nossa casa e tínhamos dito “este ano não vamos gastar muito em viagens”! mas apareceu uma promoção imperdível na KLM  e pronto, vamos! E só com um mês de antecedência lá marcamos férias no Japão. 

Começamos obviamente por Tóquio, porque a Ai  vivia lá mas quando pensamos em planear,e isto pode ser um bocado controverso Japesar do Francisco só ter 2 anos e meio, nós não pensamos muito nisso… Temos como filosofia que os miúdos se adaptam e ele já tinha feito umas quantas viagens de avião connosco (Marselha, Paris, ...) …estávamos, naturalmente, preocupados com a questão das horas de viagem, que por mais que o miúdo seja bem comportado, são sempre 11 horas….  Além disso, o Japão sempre nos pareceu muito seguro e acolhedor para ir com miúdos e o Francisco tem um espírito muito curioso, pelo que achamos normal que ele fosse connosco. 

Em Tóquio, estivemos dois dias no início e mais 3 dias no fim da viagem. Acabamos por ter uma perspectiva de Tóquio não muito turística porque o que fizemos foi estar com a Ai, explorar a cidade com ela, pelos olhos dela. Naturalmente fomos a alguns dos locais mais emblemáticos: lembro-me do dia que encontramos a Ai, combinamos encontrar-nos em Shibuya, em frente à estação e quando olhas à volta sentes uma energia brutal a emanar da cidade: tens os ecrãs gigantes todos, tens música, tens milhares de pessoas a passar naquela passadeira e estamos ali no meio de tudo! Quando chega a Ai a sensação transforma-se, sentes-te em casa. Começas a viver aquilo como um local, tudo é mais fluido. Fomos aos mesmos restaurantes que ela ia, fomos ao sitio onde ela ia buscar tempura para comer em casa, ou ela cozinhava para nós, fomos a Senso-ji, ao templo e a Ai explicou-nos o que tínhamos de fazer: vais primeiro ao sitio onde o incenso está a queimar, para te purificares antes de entrares no templo…tudo numa perspectiva menos estrangeira da cidade.

Obviamente que andamos também à descoberta e seguimos os guias turísticos: Harajuku, em que chegas com a ideia de que vamos encontrar aqui toda a gente vestida como um personagem de Manga. A verdade é que vais no metro e vês pessoas vestidas da forma mais extravagante que possas imaginar, personagens completos mas em que parece tudo muito normal... ninguém fica a olhar. Cometemos o “erro” de ir a Akihabara com um miúdo de 2 anos…um numero infinito de prédios só de gaming mas também de conteúdo impróprio para menores de 18 :)




5 – Cultura, pessoas, curiosidades e surpresas. 
O que encontraram por lá?

Tóquio tem uma energia brutal! A cidade não dorme, há sempre sempre sempre luzes, som e pessoas, em zonas como Shibuya, mas, por outro lado, tens ocontraste com as zonas residenciais onde há jardins e árvores e uma paz e comunhão com a natureza, que é o que lhes traz o equilíbrio. Os japoneses têm uma atenção e uma delicadeza incomparável para com a natureza. 

É claro que (como sempre) nos roeu a curiosidade de encontrar no Japão marcas dos portugueses - fomos nós que levamos para lá a tradição do pão-do-ló que ainda hoje é um doce típico do Japão: o Kasutera. São aquelas ligações que nos enchem de orgulho.

Uns dias depois fomos para Hiroshima. E lá, levas uma bofetada da história, não é?  É inevitável não sentires o peso do que lá aconteceu, quando vais ao ponto zero, ao museu e ao memorial e perguntas-te onde a humanidade vai parar. Mas apesar desse peso emocional, o resto da cidade renasceu, tem uma energia muito jovem e positiva e um tremendo dinamismo. 

Em Hiroshima ficamos no famoso “hotel dos peixinhos”, assim batizado pela família porque tinha um lago à entrada com carpas que se tornou o sitio preferido do imaginário do Francisco e o nosso “aliado” na viagem, porque sempre que o Francisco ficava cansado ou aborrecido (o que era normal para uma criança que ainda fazia sestas e, de repente, nada de sestas e toca a andar a pé horas a fio) nós contávamos histórias inventadas do Sr. do Hotel dos Peixinhos, ou o Sr. do Hotel dos Peixinhos “ligava-nos” para incentivar o Francisco... 

Passeamos por Miyajima que é uma ilha perto de Hiroshima (tens de apanhar um ferry para ir para lá) onde há muitos animais à solta e tem um templo onde tive uma sensação de paz inexplicável: o templo é feito de madeira escura, quase rústico e rodeado por árvores. Um refúgio maravilhoso. E depois, o ver ao vivo e a cores  a porta daquele templo no meio do mar, uma imagem que sempre esteve no imaginário ao pensar no Japão

Em Kyoto estivemos 5 dias e esta cidade é um Mundo à parte: porta sim porta sim tens um jardim ou um templo diferente…dá-te a sensação de que podias ficar lá anos e a cidade sempre teria coisas novas para mostrar. É avassalador para os sentidos: há monges a cantar e a rezar nos templos, há água a correr nos jardins, tudo tão delicado e intenso ao mesmo tempo. Nós quase não estivemos na parte nova da cidade, fomos uma ou duas vezes para jantar sushi e para o Francisco comer ovas de peixe voador, que eram o prato preferido dele no Japão :) Nos dias em que caminhávamos muito (que eram quase todos) fartávamos de suborná-lo com gelados de pêssego branco para ele se aguentar. E funcionou! Num dos dias fomos a Nara, estava um calor insuportável e ele fez uma birra... deu um pontapé na chupeta e nós pensamos “Olha que bela oportunidade de deixar a chupeta!” E ficou: até hoje, o Francisco ainda se lembra que deixou de usar a chupeta em Nara. 

Nesta cidade não conseguimos ter muito contacto com os locais, são todos pessoas muito reservadas. Sentes como se viajasses no tempo... essa sensação é ainda mais forte quando vais ao distrito das gueixas e ficas embasbacado a olhar para elas, lindas. 

Procuramos também uma experiência mais rural e, como é óbvio, queríamos ver o Monte Fuji. Seguimos, por isso, de Kyoto para Hakone que fica no sopé do Monte Fuji e a viagem até lá foi surreal: comboio, autocarro, um barco que parecia saído de um filme de piratas e finalmente teleférico até ao sitio onde íamos passar a noite. Comemos ovos pretos, que são cozidos nas águas termais, e fomos ver o Monte Fuji, não subimos obviamente, mas ficamos embasbacados a observa-lo à distância, enquanto chovia torrencialmente. 



  
6 – Fooodie: há vida no Japão além do sushi??

Na verdade não comemos sushi assim tantas vezes…apesar de adorarmos. Fomos a um dos típicos restaurantes em que os pratos passam por um tapete rolante, e em Kyoto comemos num restaurante muito bom de sushi.

Quando regressamos depois a Tóquio, visitamos o mercado do peixe, Tsukiji, onde se faz o leilão de atum, comemos lá um sushi maravilhoso ao pequeno-almoço… Mas, contra todas as expectativas, fartamo-nos de comer ramen: em todo o lado no Japão se come ramen! Que é delicioso e é comida de conforto.

Ficamos surpreendidos porque, para o país que é,  as refeições são baratas. A refeição mais cara que fizemos foi no jantar de aniversario da Ai, que foi no topo de um daqueles edifícios em Tóquio em que tens vista para a cidade toda e foi uma experiência fantástica: jantar só com japoneses e fazer karaoke com eles. Eles são viciados! Há cubículos em prédios onde pões umas moedas e ficas a cantar até te cansares. 

Foi também com a Ai que experimentamos o “Korean Barbecue”, fomos com ela e os pais a um sitio super escondido e eles ofereceram ao Francisco uma réplica de um “comboio bala”…(entretanto já lhe tínhamos oferecido uns pauzinhos para comer em forma de comboio-bala, com o qual ele estava fascinado). O restaurante ficava num prédio tipo residencial, não me lembro em que andar, e após passares por uma série de corredores sem janelas chegavas a uma sala cheia de fumo no ar, onde te sentavas no chão com a grelha do barbecue à tua frente e ias cozinhando a tua própria carne. Das melhores refeições que já tivemos! Carne de vaca fabulosa, mas também moelas e outras partes estranhas :) 


7 – Voltavam? 

Sim! Fechamos a viagem, com planos para voltar. Isso teria acontecido em 2017, já com a Clara (a segunda na linhagem, a seguir ao Francisco) mas foi a altura da crise dos misseis entre os EUA e a Coreia do Norte e não tivemos coragem de arriscar. Mas faz parte do sonho familiar, vivermos uns anos no Japão, em Tóquio, da mesma forma que faz parte do imaginário familiar viver também uns anos em Nova York. Está lá, na bucket list. 


Esta entrevista é parte da nova edição da revista trimestral "Vou Ali e Venho Já" e se quiserem conhecer mais sobre o Japão, participar nos desafios e descobrir o nosso próximo destino basta passarem pelo site, onde encontram também as edições anteriores com mimos desde a América Latina até a um dos países mais pequenos do Mundo. Curiosos? É só ir espreitar. 

#GoRitaGo
#Voualiivenhojá

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