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InterGoView { Take 9} - Música, Sociedade e Integração com "O Gringo Sou Eu"



Olá minha gente! 
Desde Maio que não tínhamos entrevista nova, responsabilidade 100% minha, que tenho coisas a mais para horas a menos no meu dia! Mas diz-se também que quem quer encontra tempo, e quem não quer, uma desculpa e por isso mesmo, aqui vai a conversa com o Frankão, áka "O Gringo Sou Eu" que também dedicou um bocadinho do seu dia a aturar as minhas perguntas e a falar-nos sobre os projectos que trouxe para Portugal.



1 - Olá Frankão! Aproveito mais uma vez para te dar os parabéns pela atuação no Serralves em Festa deste ano: foi das mais genuínas que por lá passaram e puxou por toda a gente que lá estava! Para quem não te conhece ainda, queres fazer uma breve apresentação da tua pessoa?

Olá Rita, obrigado por se interessar pelo o meu trabalho. O meu nome é Franklin Soares Monteiro sou nascido em Angra dos Reis e criado em Volta Redonda uma cidade industrial no interior do rio de janeiro. Sempre tive como influência as lutas populares pois em Volta Redonda existe a maior fábrica de aço da América latina e meu pai um ex-operário se tornou sindicalista. 


2 - Do Brasil para Portugal: há quanto tempo estás cá e o que impulsionou essa mudança?

Cheguei a Portugal em 2010 através da minha atual esposa que conheci no Brasil. Na minha opinião a mudança só te faz crescer, começar de novo é uma oportunidade de fazer diferente com outro olhar e isso me motiva muito.







3 - Fala-nos um pouco do teu projecto com a comunidade cigana de Famalicão: como surgiu esta ideia? O que encontraste quando tiveste o primeiro contacto com eles? Quais foram os principais resultados que viste acontecer até agora?

Antes de tudo eu trabalho com 3 comunidades em Famalicão não só ciganos, o lance de trabalhar com a comunidade cigana surgiu naturalmente eu nunca pensei se seria com ciganos ou qualquer outro, porque para mim, sinceramente não faz diferença, quem me deu a oportunidade de trabalho com os meninos foi uma associação de Famalicão chamada Yupi , logo quando cheguei confiou em mim sem mesmo me conhecer e isso serei sempre grato. 

Resultados são vários de várias maneiras, mas o que acho muito importante e estou vendo como um crescimento é o dispertar do raciocínio crítico e o assumir a responsabilidade do projeto, porque o projeto realmente é deles e isso tem que ser tratado como tal.


4 - De alguma forma, aquilo que fazes aqui é muito similar ao que fazias no Brasil: focas-te em integrar, através da música, pessoas que por razões várias são colocadas à margem da sociedade. Porque é que num mundo cada vez mais global ainda há tantos excluídos? Pessoas a quem as oportunidades não chegam da mesma maneira?

Mais do que integrar eu me preocupo é no que integrar, a música é apenas uma ferramenta e não é nada mais que isso, pode ser usada de várias formas, música é usada pra matar em formações militares por exemplo, costumo dizer que utilizo a didática do cotidiano conforme os problemas vão surgindo vamos trabalhando em conjunto para a solução, sem hierarquia tudo é trabalhado no coletivo, mesmo que eu perceba pela experiência de trabalho que aquela decisão não é um bom caminho, deixo que aconteça se o coletivo assim decidiu, o erro é o caminho para o novo não podemos ter medo de errar. 

Há um interesse em se manter os excluídos pela lógica do mercado, o mercado onde visa o lucro em primeiro lugar segue o fluxo da exploração, quanto mais miseráveis mais chance de utilização de mão de obra barata, mas o ser humano não é uma máquina, é um ser orgânico que muda como qualquer organismo, mesmo que ele seja conduzido para um fim ele vai mudar pro bem ou pro mal. 

Oportunidade na minha opinião é volátil, as vezes o que parece ser uma falta de oportunidade pode ser a oportunidade da tua vida, um exemplo: o fato de eu não ter estudado música pela falta de oportunidade me fez inventar minha própria música, assim me dando um certo diferencial, essa é a forma que tento passar pros meninos, acho que temos que ter acesso aos estudos sim, repito: isso é apenas uma ferramenta.



5 - Sobre Portugal: o que mais tens gostado? O que mais te surpreendeu? 

O que mais gosto em Portugal são as pessoas, por mais que temos muitas diferenças culturais temos muitas semelhanças também, mas é nas diferenças que eu aprendo mais, a passividade do povo português é muito interessante, um país que praticamente não tem violência me faz muito feliz, é um país belíssimo com muita cultura popular que deu origem a muitas culturas brasileira, cada vez que conheço uma manifestação popular portuguesa faço logo um link com alguma manifestação no Brasil, claro que no Brasil é transformada devido a mistura com negros e índios e tenho muito orgulho disso, o que Portugal levou de mais importante pro Brasil não foi sua corte e sim um povo que se misturou e enriqueceu nossos saberes populares.

Temos que rever nossa história sim, temos que dar voz e ouvir essa história na versão do mestiço, negros e índios, pois a versão do branco europeu já sabemos, não podemos ter medo disso porque assim podemos ter mais diversidade no saber, esse controle da informação só alimenta a exclusão, o racismo e a intolerância.


6 -  E para quem queira saber mais de ti e da tua música: onde te pode "encontrar"?

Obrigada a ti, Franklin, pela disponibilidade e pelo entusiasmo com que respondeste a esta entrevista! Espero que Portugal te continue a tratar bem e seja o país onde possas criar as melhores memórias em família e com as pessoas com quem trabalhas. Até breve, num qualquer palco por aí!

#GoRitaGo
#InterGoView

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